“E PARA QUEM FICARÁ O QUE ACUMULEI?”

LER

Lucas 12,13-21

“E para quem ficará o que tu acumulaste?” (Lc 13,20).

Essa pergunta de Jesus é um convite ao despertar da alma. Vivemos correndo atrás de conquistas, bens e aplausos, mas esquecemos que nada disso atravessa a morte. Acumulamos por medo de faltar, mas acabamos vazios de sentido. A verdadeira riqueza é aquela que não cabe em cofres: amor vivido, perdão oferecido, presença compartilhada. Não somos donos do tempo, e o amanhã não nos pertence. Hoje é o único chão seguro para plantar o que é eterno. Deus não nos chama de “loucos” por termos muito, mas por vivermos como se fôssemos durar para sempre aqui. A alma tem fome do essencial, e o essencial não se compra — se doa. Se hoje fosse sua última noite, o que de você permaneceria?

(Pe. William Santos Vasconcelos – Diretor Espiritual).

MEDITAR

  1. O que estou acumulando?
  2. Tenho facilidade de compartilhar bens materiais e imateriais com as pessoas que são próximas?

COMPROMISSO

Faça uma triagem dos bens que são supérfluos e que você não usa e compartilhe. (escreva no seu Diário espiritual).

LEITURA ESPIRITUAL

A primeira leitura e o evangelho nos oferecem estímulos não apenas para a meditação e a oração, mas também para obter uma visão mais ampla das coisas em Deus.

O drama da “vaidade” consiste no fato de que as coisas têm sua beleza e bondade, que atraem os olhos e o coração do ser humano, o qual, num segundo momento, experimenta com decepção a sua falsidade. Sobre esse processo fala o autor do Livro da Sabedoria. Para ele, está claro o princípio fundamental: “Pela grandeza e beleza das criaturas se contempla, por analogia, o seu Criador” (Sb 13,5). No entanto, os homens correm o risco de se mostrar míopes: “deixam-se seduzir pela aparência” e, “maravilhados com sua beleza, tomaram-nas por deuses”. Daí vem a repreensão: “Verdadeiramente insensatos…” (Sb 13,1.3.6.7). O espírito humano, “se se liberta da escravidão das coisas” (Gaudium et Spes, 57), pode passar rapidamente da admiração pela criação à contemplação do Criador: “Pois o que em Deus é invisível, desde a criação do mundo, se torna visível à inteligência por meio de suas obras: seu eterno poder e sua divindade” (Rm 1,20).

O Deus criador é o mesmo Deus salvador que nos enviou seu Filho. No evangelho de hoje, meditado à luz de seu contexto imediato e do capítulo seguinte (Lc 16), Jesus vai nos abrindo gradualmente os olhos para um horizonte cada vez mais amplo, que nos introduz na visão de Deus e de seu plano sobre o homem.

Se Qohélet (Eclesiastes) tendia a equiparar homens e animais — “O homem não tem vantagem sobre os animais, pois tudo é vaidade” (Ecl 3,19) —, Jesus, por outro lado, nos revela que existe uma grande diferença: “A vida vale mais que o alimento, e o corpo mais que as roupas… e vocês valem muito mais do que os passarinhos” (Lc 12,23ss). Ele nos mostra, sobretudo, que a administração desta vida, mesmo sendo frágil, é decisiva para a vida futura: “Enriquecer-se diante de Deus” significa tratar com desapego os bens terrenos para nos prepararmos um “tesouro inesgotável nos céus” (Lc 12,33).

Jesus não nos pede que desprezemos as riquezas deste mundo, mas que as valorizemos em relação a um bem infinitamente maior: a vida eterna.

Deus nos mostrou que a vida humana é preciosa aos seus olhos ao permitir que seu Filho entregasse sua vida por nós. Assim, o Filho libertou os filhos de Deus e toda a criação da “vaidade”, revelando seu sentido último (cf. Rm 8,19-25). Ao bordarmos com “boas obras” o tecido frágil da realidade humana, preparamos para nós uma “feliz esperança” (Tt 2,13ss).

Ora, o arco-íris que une a vida presente com a futura só é visível para quem crê no Senhor Jesus, morto e ressuscitado: o Pai, “em sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, nos fez nascer de novo para uma esperança viva, para uma herança incorruptível, incontaminada e que não murcha” (1Pd 1,3ss).

Fazer a experiência da contemplação a partir das leituras de hoje, depois de tê-las meditado e orado, significa, portanto, passar da reflexão sobre a Palavra de Jesus, que nos ilumina sobre a administração tola ou prudente dos bens, à visão da “extraordinária riqueza da graça” de Deus preparada “para nós em Cristo Jesus” (Ef 2,7).

(lectio divina 15 Domingos del T.O. Ciclo C – Desconocido.pdf).

Bom domingo para você e sua família!